Muitas vezes – normalmente ao ler textos de elevado nível intelectual -, o leitor se depara com expressões ou referências culturais desconhecidas, cujos significados dão norte à compreensão geral do texto. Em algumas oportunidades, o próprio contexto possibilita que alcancemos a semântica daquela expressão. Em outras, entretanto, somente a pesquisa em outras fontes nos dará o completo entendimento da intencionalidade do autor.
Foi o que me ocorreu ao ler o artigo Federalismo à força, de Serge Halimi, na edição de julho de 2012 da revista Le Monde Diplomatique Brasil.
Ao fazer suas ponderações sobre o que considera uma “fé incondicional” dos federalistas europeus no sucesso das políticas de integração monetária, orçamentária e comercial, o intelectual francês utilizou-se de um substantivo originário do mundo grego antigo.
No texto, Halimi diz que “as cassandras de hoje são os beatos de ontem”.
Quem foi Cassandra na mitologia grega?
Conta-se que Cassandra era uma bela devota de Apolo, por quem o próprio deus olímpico se apaixonou. Filha do rei troiano Príamo e da rainha Hécuba e irmã do famoso general Heitor, Cassandra tornou-se profetisa quando Apolo ensinou-lhe os segredos da premonição. Porém, quando o deus viu negados seus desejos de amá-la, lançou-lhe a maldição de que ninguém jamais viesse a acreditar em suas previsões.
No mais famoso de seus alertas, ninguém acreditou que o cavalo de madeira que fora deixado em frente aos portões de Tróia fosse, na verdade, um estratagema para invadir a cidade. Em suma, uma profecia de Cassandra é uma profecia catastrófica na qual ninguém acredita, seja verdadeira ou não.
De volta ao texto, cabe contextualizar que as mesmas pessoas que no passado tinham fé inabalável na integração do Velho Continente são as mesmas que hoje alertam para sua tragédia. Serge Halimi quer nos dizer que ninguém se convence de que os mesmos planejadores que impuseram políticas comunitárias à força, há trinta anos, agora queiram nos alertar de que estamos diante de uma catástrofe e que a solução seja, justamente, insistir na criação de uma Federação Européia, ou seja, um passo ainda maior no rumo da integração continental iniciada pela União Européia.
Fonte:
Artigo: Federalismo à força, de Serge Hamili
Wikipédia: Lista de expressões idiomáticas de origem histórica ou mitológica
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